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segunda-feira, 2 de abril de 2012

A lembrança do passado: Um aparente paradoxo bíblico.






Para este assunto vamos tomar como base dois versículos da Palavra de Deus: “Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas” (Isaías 43.18) e “Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim” (Isaías 46.9). À primeira vista estes versículos parecem gerar um forte paradoxo. Afinal, o povo de Deus deveria ou não lembrar do seu passado? Deveria ou não Israel voltar suas lembranças nos tempos antigos? É bíblico ou não um crente lembrar das grandezas que Deus realizou durante a história passada da igreja na qual congrega? Esta aparente contradição bíblica é resolvida quando analisamos cada um desses versículos dentro do seu contexto.
Confesso que preocupa-me o fato de alguém querer ignorar os acontecimentos grandiosos ocorridos na história da igreja. Como se lembrar dessas coisas não fizesse sentido algum para a fé do povo de Deus. Vez por outra ouvimos irmãos esbravejarem do púlpito: “Quem vive do passado é museu”. Confesso que em minha ignorância já disse isso algumas vezes. Porém, pergunto, esta afirmação está correta no sentido na qual é colocada pelos pregadores? Precisamos mesmos esquecer as realizações miraculosas que Deus tão bondosamente realizou em nosso meio, e não mais falarmos delas sob o risco de parecermos saudosistas? Erra o irmão ou a irmã que se põe a fazer uma analogia entre o estado da igreja de outrora com o que temos vivenciado hoje? Creio que não. Não podemos esquecer a memória de nossa igreja. Não devemos reprimir as lembranças dos que viveram tempos de intenso avivamento na Casa do Senhor. Com muita propriedade disse certo pensador: “Um povo sem memória, sem passado, é um povo sem futuro”.
Confesso que alegra-me o coração ouvir os irmãos mais velhos relatarem as manifestações que o Senhor operava, e a freqüência com que Ele operava num passado próximo. Tais relatos servem para que possamos verificar nossa ‘temperatura’ espiritual de hoje com a que foi vivida por estes irmãos outrora. Não quero com isto dizer que Deus não opera hoje, de forma alguma. Ele opera sim, pois “Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hebreus 13.8) e como disse o grande legislador de Israel, Moisés: “... sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmo 90.2). Contudo, em alguns momentos fico com a impressão de que muito do que está acontecendo hoje durante a celebração do culto nas igrejas, e é apresentado como uma ação divina, tem muito mais de homens do que de Deus. Tem muito mais emocionalismo da carne do que santas emoções produzidas pelo Santo Espírito. Então, é natural que aqueles que viveram e presenciaram num passado recente as operações de Deus no meio do Seu povo, a dimensão e a freqüência com que ocorriam estas manifestações divinas, há de estranhar algumas manifestações de hoje e sentir falta do mover do Espírito Santo na igreja de Deus como ocorria antes. Não vamos entrar em detalhes, mas em muito lugares tem ocorrido coisas 'bem estranhas' durante a celebração do culto, as quais são tidas como operação do Espírito Santo.
Olhando os relatos do final do êxodo na ocasião em que Josué e o povo de Israel atravessaram o rio Jordão a pés enxuto (Josué cp. 3), no grande milagre da travessia do Jordão, para entrarem na terra prometida, encontramos uma ordem expressa de Deus a Josué para que ele separasse doze homens dentre os filhos de Israel, um de cada tribo, para que estes levantassem cada um uma pedra de dentro do rio Jordão, do lugar aonde havia pisado os pés dos sacerdotes no meio do rio, e estas pedras deveriam ser arrumadas num monumento na outra margem do rito e posteriormente na cidade de Gilgal (Josué 4.1-5,8-9,20). Mas qual a razão para tal ordem? Por que Deus queria um monumento de pedras tiradas do rio erguidas num local determinado por Ele? A resposta a estas questões está no final do versículo que diz: “... assim que estas pedras serão sempre por memorial aos filhos de Israel” (4.7) e também quando diz: “... Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais, dizendo: Que significam estas pedras?, fareis saber aos vossos filhos, dizendo: Israel passou em seco o Jordão...Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor que é forte, para que temais ao Senhor, vosso Deus, todos os dias” (4.21-24). Eis aí a razão. Deus não desejava que as futuras gerações do seu povo Israel esquecessem do que Ele havia operado naquele dia em favor dos Israelitas. O Senhor estava estabelecendo um memorial, para onde as futuras gerações dos filhos de Israel deveriam voltar seu olhar e lembrar do grande poder do Senhor Jeová, a fim de temerem sempre ao Senhor e fortalecerem a sua fé Nele. “Um monumento de pedras era freqüentemente usado para relembrar às gerações futuras a respeito do livramento divino e da sua graça para com o seu povo. O crente de hoje pode escolher certas coisas ou lugares como memoriais para relembrar as grandes coisas que Deus fez por eles...” (1). Portanto, neste contexto o Senhor faz questão que seu povo não esqueça dos milagres e maravilhas que Ele operou no passado, a fim de que a fé do crente seja fortalecida e este saiba que o mesmo Deus que operou antigamente é o mesmo que pode operar hoje. Por isso ele diz: “Lembrai-vos das coisas passadas...” através do profeta Isaías ao povo de Judá que iria para o cativeiro babilônico, mas precisaria manter sua fé viva no Senhor seu Deus.
Por outro lado há um passado que Deus não quer que estejamos apegados a ele. O passado de sofrimento, pecado e julgamento. O Senhor deseja que seus filhos esqueçam. Há cristãos que comumente estão voltando a lembrar-se do seu passado, da vida de pecados que levavam antes de se tornarem salvos na pessoa bendita de Jesus Cristo, e se põe a falar dele às outras pessoas. Ora, se nem mesmo Deus deseja lembrar destas coisas como diz em sua Palavra “... porque perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados” (Jeremias 31.34), por que deve lembrar-se delas o crente nascido de novo? “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (II Coríntios 5.17). Portanto, neste contexto Deus diz “Não vos lembreis das coisas passadas. O próprio Deus através do profeta Isaías trás à memória do povo de Judá os Seus feitos maravilhosos operados outrora na vida de seus antepassados, (Isaías 43.16-17) e promete que irá fazer coisas maiores do que aquelas presenciadas pelos seus pais, “Eis que farei uma coisa nova...” (vs.19,20). Contudo, o povo de Judá deveria esquecer as profecias de julgamento proferidas contra eles, “As coisas passadas são as profecias de juízo anunciadas por Isaías e outros profetas (Is 42.9,21-25; 43.9,10; 46.8,9; 48.3)". (2).
Concordo que nenhum crente ou igreja ‘viva’ do seu passado como que se as manifestações espirituais desse tempo seja apenas uma realidade distante e impossível de acontecer novamente. Não devemos olhar para trás com um coração cheio de incertezas e o pensamento de ‘bons tempos que não voltam mais’, de jeito nenhum. O fervor, a devoção, o poder para vencer o mundo e o pecado. A santidade e as manifestações gloriosas da igreja de tempos remotos devem-nos inspirar, provocar em nós santo temor e santo desejo para buscarmos ao Senhor e pedir que ele derrame um grande avivamento entre nós. Deve-nos conduzir de volta para o altar da Palavra de Deus. Mover-nos em direção ao Senhor com maior devoção e desejo da Sua presença, “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós...” (Tiago 4.8). Portanto, lembrar ou não lembrar do passado, como diz a Palavra de Deus, dependerá do contexto no qual encontra-se uma e outra advertência.

Pb. Junior Mendes da Silva

(1)  Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro. CPAD, 1995, p.351
(2) O Novo comentário BIBLICO ANTIGO TESTAMENTO. Rio de Janeiro. EDITORA CENTRAL GOSPEL, 2009, P.1079

4 comentários:

  1. Devemos nos lembrar das operações do passado buscando ao Senhor para elas possam ser também as operações do presente. Creio que as verdadeiras operações do Espírito Santo não rejeitadas pelo povo de Deus e tenho fé que ainda iremos ver muito mais milagres do meio do povo de Deus.

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  2. Parabéns irmão Júnior pelo seu artigo, Deus te abençoe mais e mais.

    Josué Batista

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    1. Obrigado jovem Josué, que o Senhor continue abençoando a ti também.

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