Para este assunto
vamos tomar como base dois versículos da Palavra de Deus: “Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas”
(Isaías 43.18) e “Lembrai-vos das coisas
passadas desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há
outro semelhante a mim” (Isaías 46.9). À primeira vista estes versículos
parecem gerar um forte paradoxo. Afinal, o povo de Deus deveria ou não lembrar do seu passado? Deveria ou não Israel voltar suas lembranças nos tempos
antigos? É bíblico ou não um crente lembrar das grandezas que Deus realizou
durante a história passada da igreja na qual congrega? Esta aparente
contradição bíblica é resolvida quando analisamos cada um desses versículos
dentro do seu contexto.
Confesso que preocupa-me o fato de alguém querer ignorar os acontecimentos grandiosos ocorridos na história da igreja. Como se lembrar dessas coisas não fizesse
sentido algum para a fé do povo de Deus. Vez por outra ouvimos irmãos esbravejarem do púlpito: “Quem vive do passado é museu”.
Confesso que em minha ignorância já disse isso algumas vezes. Porém, pergunto,
esta afirmação está correta no sentido na qual é colocada pelos pregadores?
Precisamos mesmos esquecer as realizações miraculosas que Deus tão bondosamente
realizou em nosso meio, e não mais falarmos delas sob o risco de parecermos
saudosistas? Erra o irmão ou a irmã que se põe a fazer uma analogia entre o
estado da igreja de outrora com o que temos vivenciado hoje? Creio
que não. Não podemos esquecer a memória de nossa igreja. Não devemos reprimir
as lembranças dos que viveram tempos de intenso avivamento na Casa do Senhor.
Com muita propriedade disse certo pensador: “Um povo sem memória, sem passado, é um povo sem futuro”.
Confesso que alegra-me o coração ouvir os irmãos mais velhos relatarem as manifestações que o
Senhor operava, e a freqüência com que Ele operava num passado próximo. Tais
relatos servem para que possamos verificar nossa ‘temperatura’ espiritual de
hoje com a que foi vivida por estes irmãos outrora. Não quero com isto dizer
que Deus não opera hoje, de forma alguma. Ele opera sim, pois “Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente”
(Hebreus 13.8) e como disse o grande legislador de Israel, Moisés: “... sim, de eternidade a eternidade, tu és
Deus” (Salmo 90.2). Contudo, em alguns momentos fico com a impressão de que muito do que está acontecendo hoje durante a celebração do culto nas igrejas, e é apresentado como uma ação divina, tem muito
mais de homens do que de Deus. Tem muito mais emocionalismo da carne do que
santas emoções produzidas pelo Santo Espírito. Então, é natural que aqueles que viveram e presenciaram num passado recente as operações de Deus no meio do Seu povo, a dimensão e a freqüência com que ocorriam estas manifestações divinas, há de estranhar algumas manifestações de hoje e sentir
falta do mover do Espírito Santo na igreja de Deus como ocorria antes. Não
vamos entrar em detalhes, mas em muito lugares tem ocorrido coisas 'bem estranhas' durante a celebração do culto, as quais são tidas como operação do Espírito Santo.
Olhando os
relatos do final do êxodo na ocasião em que Josué e o povo de Israel atravessaram
o rio Jordão a pés enxuto (Josué cp. 3), no grande milagre da travessia do
Jordão, para entrarem na terra prometida, encontramos uma ordem expressa de
Deus a Josué para que ele separasse doze homens dentre os filhos de Israel, um
de cada tribo, para que estes levantassem cada um uma pedra de dentro do rio
Jordão, do lugar aonde havia pisado os pés dos sacerdotes no meio do rio, e
estas pedras deveriam ser arrumadas num monumento na outra margem do rito e
posteriormente na cidade de Gilgal (Josué 4.1-5,8-9,20). Mas qual a razão para
tal ordem? Por que Deus queria um monumento de pedras tiradas do rio erguidas
num local determinado por Ele? A resposta a estas questões está no final do
versículo que diz: “... assim que estas
pedras serão sempre por memorial aos
filhos de Israel” (4.7) e também quando diz: “... Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais, dizendo:
Que significam estas pedras?, fareis saber aos vossos filhos, dizendo: Israel
passou em seco o Jordão...Para que todos os povos da terra conheçam a mão do
Senhor que é forte, para que temais ao Senhor, vosso Deus, todos os dias”
(4.21-24). Eis aí a razão. Deus não desejava que as futuras gerações do seu povo
Israel esquecessem do que Ele havia operado naquele dia em favor dos
Israelitas. O Senhor estava estabelecendo um memorial, para onde as futuras
gerações dos filhos de Israel deveriam voltar seu olhar e lembrar do grande
poder do Senhor Jeová, a fim de temerem sempre ao Senhor e fortalecerem a sua fé
Nele. “Um monumento de pedras era freqüentemente usado para relembrar às gerações futuras a respeito
do livramento divino e da sua graça para com o seu povo. O crente de hoje pode
escolher certas coisas ou lugares como memoriais para relembrar as grandes coisas que Deus fez por eles...” (1).
Portanto, neste contexto o Senhor faz questão que seu povo não esqueça dos
milagres e maravilhas que Ele operou no passado, a fim de que a fé do crente
seja fortalecida e este saiba que o mesmo Deus que operou antigamente é o mesmo
que pode operar hoje. Por isso ele diz: “Lembrai-vos
das coisas passadas...” através do profeta Isaías ao povo de Judá que iria
para o cativeiro babilônico, mas precisaria manter sua fé viva no Senhor seu
Deus.
Por outro lado
há um passado que Deus não quer que estejamos apegados a ele. O passado de
sofrimento, pecado e julgamento. O Senhor deseja que seus filhos esqueçam. Há
cristãos que comumente estão voltando a lembrar-se do seu passado, da vida de pecados
que levavam antes de se tornarem salvos na pessoa bendita de Jesus Cristo, e se põe a falar
dele às outras pessoas. Ora, se nem mesmo Deus deseja lembrar destas coisas como diz em
sua Palavra “... porque perdoarei a sua
maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados” (Jeremias 31.34), por
que deve lembrar-se delas o crente nascido de novo? “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas
já passaram; eis que tudo se fez novo” (II Coríntios 5.17). Portanto, neste
contexto Deus diz “Não vos lembreis das
coisas passadas. O próprio Deus através do profeta Isaías trás à memória do
povo de Judá os Seus feitos maravilhosos operados outrora na vida de seus
antepassados, (Isaías 43.16-17) e promete que irá fazer coisas maiores do que
aquelas presenciadas pelos seus pais, “Eis
que farei uma coisa nova...” (vs.19,20). Contudo, o povo de Judá deveria
esquecer as profecias de julgamento proferidas contra eles, “As coisas passadas são as profecias de
juízo anunciadas por Isaías e outros profetas (Is 42.9,21-25; 43.9,10; 46.8,9; 48.3)". (2).
Concordo que
nenhum crente ou igreja ‘viva’ do seu passado como que se as manifestações
espirituais desse tempo seja apenas uma realidade distante e impossível de
acontecer novamente. Não devemos olhar para trás com um coração cheio de
incertezas e o pensamento de ‘bons
tempos que não voltam mais’, de jeito nenhum. O fervor, a devoção, o poder
para vencer o mundo e o pecado. A santidade e as manifestações gloriosas da
igreja de tempos remotos devem-nos inspirar, provocar em nós santo temor e santo
desejo para buscarmos ao Senhor e pedir que ele derrame um grande avivamento
entre nós. Deve-nos conduzir de volta para o altar da Palavra de Deus. Mover-nos
em direção ao Senhor com maior devoção e desejo da Sua presença, “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a
vós...” (Tiago 4.8). Portanto, lembrar ou não lembrar do passado, como diz
a Palavra de Deus, dependerá do contexto no qual encontra-se uma e outra
advertência.
Pb. Junior Mendes da Silva
Pb. Junior Mendes da Silva
(1) Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro. CPAD,
1995, p.351
(2) O Novo comentário BIBLICO ANTIGO TESTAMENTO. Rio
de Janeiro. EDITORA CENTRAL GOSPEL, 2009, P.1079
Devemos nos lembrar das operações do passado buscando ao Senhor para elas possam ser também as operações do presente. Creio que as verdadeiras operações do Espírito Santo não rejeitadas pelo povo de Deus e tenho fé que ainda iremos ver muito mais milagres do meio do povo de Deus.
ResponderExcluirIsso mesmo Torre de Davi.
ExcluirParabéns irmão Júnior pelo seu artigo, Deus te abençoe mais e mais.
ResponderExcluirJosué Batista
Obrigado jovem Josué, que o Senhor continue abençoando a ti também.
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